Márcia Coimbra
Reflexões sobre o Brasil no G7
Márcio Coimbra
Cientista político, presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica, ex-diretor da Apex-Brasil e do Senado
Lula foi convidado para ir a Tóquio e sentar-se à mesa de reuniões do G7 porque venceu pelo centro, ou melhor, venceu aquele que defendia uma proposta radical que flertava com o risco antidemocrático. Porém, o Lula que chegou à capital japonesa ainda teima em olhar para o passado, com teses superadas e talvez esse seja o risco principal que paira sobre seu governo.
A leitura apresentada pelo governo brasileiro para lidar com a crise na Ucrânia está fora de foco, contexto e realidade. Desagrada europeus, americanos e a imensa maioria do mundo democrático. Funciona apenas em alguns nichos tradicionais por onde transitam a velha esquerda latino-americana, os negócios chineses e os interesses russos, todos regimes que rejeitam a democracia e sua leitura do cenário internacional.
Nesse ponto, entram em confronto a leitura brasileira versus a reinserção do Brasil na comunidade internacional. Fato é que a suposta distância responsável mantida pelo nosso País diante do conflito tem mostrado, na verdade, uma falsa ambivalência, que diante da postura de Lula sugere alinhamento próximo com a posição russa, perdendo assim a legitimidade para qualquer mediação.
O Brasil tinha tudo para asfaltar um retorno virtuoso no cenário internacional. A agenda ambiental é tema essencial das mesas de negociação e o nosso País possui liderança costumeira nesse tabuleiro. Aquilo que começou a ser trilhado durante a visita de Lula ao Egito, rapidamente se perdeu. Se o governo brasileiro quer resgatar seu prestígio, o mais inteligente é tirar o conflito europeu do tabuleiro de prioridades, voltando-se para a questão ambiental, área em que possui protagonismo natural.
Esse seria o trunfo de Lula em Tóquio. Para além de Ucrânia, Rússia e outros problemas que assolam o mundo, o Brasil poderia ter chegado com um plano ambicioso de selar a democracia da América Latina, tornando-se fiador dessa agenda na região, além de apresentar um projeto de desenvolvimento da Amazônia, integrando a região a uma agenda verde, de vanguarda e colocando-se em sintonia com os interesses dos países do G7 de forma inteligente e complementar. Infelizmente, a agenda brasileira passou longe dessa pauta.
Ao falar contra o protecionismo dos países ricos, enfraquecimento do sistema multilateral de comércio e reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, além da guerra na Ucrânia, o País perdeu-se em temas antigos e sem conexão direta com sua realidade. Na verdade, nossa agenda poderia ter focado em temas relacionados com a economia verde, que pode gerar investimentos. Afinal, vivemos uma nova fronteira econômica da qual podemos nos tornar protagonistas em nível mundial.
A reunião do G7 foi um convite para a retomada de liderança em alguns assuntos e um aceno ao futuro, porém, nosso País perdeu a oportunidade de assumir essa liderança, insistindo em temas que remetem ao passado. Lula venceu pelo centro. Aos olhos do mundo, que reabre suas portas para o Brasil, convidando nosso País a ser ouvido, existe uma trilha natural em nossa agenda que passa por esse caminho, ou seja, temas relativos à democracia e meio ambiente. É preciso romper com assuntos ultrapassados, olhar para o futuro e enxergar esse leque de oportunidades de forma madura e inteligente.
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